Maternidade, culpa e objetivos contraditórios
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Nos processos de consultoria, ao definir objetivos, muitas clientes incluem "passar mais tempo com meu filho". Eu percebo uma culpa imensa de não se dedicar completamente a educação dos filhos, não conseguir estar sempre presente e poder atender completamente a suas necessidades, tentando garantir sua segurança e estabilidade. Só que essas mesmas mulheres reclamam de cansaço ao voltar dos finais de semana quando finalmente conseguem se aproximar da experiência concreta desse objetivo.
Eu também já senti essa culpa e já desejei poder passar mais tempo com a minha filha. Mas aos poucos fui percebendo que o meu desejo não era exatamente esse. A pista veio quando eu passei alguns dias de férias com ela, só nós duas, juntas o tempo todo. Dedicação total, atenção, cuidados, curtição...e eu não aguentei. No fim eu estava mal humorada e torcendo para as férias acabarem, aliviada por ela poder voltar pra escola e eu poder voltar ao trabalho e a minha rotina.
Isso me deixou confusa, eu só podia ter ficado maluca. Quando finalmente consegui o que queria, desejei voltar a como as coisas eram antes! E aí eu resolvi refletir mais profundamente sobre o que eu realmente queria. Descobri que o que eu desejava na verdade era conseguir dar atenção a minha filha e manter uma relação saudável em que ela se sentisse amada e cuidada, queria poder prover a segurança e estabilidade que ela merecia. Pode parecer a mesma coisa, mas não é.
Passar mais tempo com ela não significava necessariamente conseguir isso. Me dedicar exclusivamente a ela, me privando de fazer as coisas que eu gosto era me deixar em desequilíbrio e me fazia ser uma mãe não tão boa assim. Não é a quantidade de tempo. É a qualidade. O respeito, a conexão. Ela precisa saber que eu tenho vida, que eu não tenho superpoderes e precisa sentir que o meu amor é incondicional, perto ou longe e que quando eu puder e estiver com ela, vai ser massa.
Entendendo isso, o foco passa a ser encontrar esse equilíbrio e pensar em estratégias para prover a segurança, estabilidade, amor e cuidado. Sem excessos, fazendo o melhor que eu puder, sem passar por cima de mim mesma. Eu sou uma mãe melhor quando me cuido, quando tiro um tempo para mim, quando posso dizer a ela que estou no cômodo ao lado lendo porque não quero assistir aquele desenho que ela quer ver, mas que assim que acabar o desenho podemos brincar de algo que as duas queiram juntas.
Não pense que é fácil e que ter essa clareza resolve tudo. Mas te garanto que é melhor do que alternar entre a culpa e a exaustão, nunca realmente curtindo a maternidade como ela se apresenta. Eu amo a minha filha e é por isso que preciso cuidar de mim para conseguir cuidar bem dela.
E você, como tem lidado com o caos da maternidade? Tem clareza do que quer ou está se iludindo querendo dar conta de mais do que pode e desejando uma realidade impossível?
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