Como eu me organizei para uma segunda graduação

A primeira coisa que preciso dizer é que funciona melhor do que a primeira graduação. Eu não tinha ideia do que esperar quando entrei na UFBA para fazer Ciência da Computação e agora as coisas já são mais leves nesse sentido. Ter passado por isso lá atrás ajuda bastante. Gostar de ler e estudar também, devo confessar.

No meu caso, essa decisão foi bem pensada junto com meu marido (tanto financeiramente quanto com relação a rotina da família) e me matriculei no primeiro semestre desse ano (estou finalizando meu segundo semestre de dez no total). Mas uma coisa que é importante esclarecer é que decidi tentando não gerar grandes expectativas. Eu quero que seja leve, sem a pressão de ter que ganhar dinheiro com isso (pressão que rolava na primeira).

Acho que o primeiro ponto então no caminho para a segunda graduação é mapear suas expectativas. Entender seus porquês. Qual a sua intenção com essa nova graduação? Essa clareza vai ajudar a dar conta das dificuldades ao longo do caminho.

Outra coisa que fiz a partir daí foi pesquisar as alternativas, ver as grades dos cursos disponíveis, os horários e exigências. Optei por uma universidade particular onde não precisei fazer enem ou vestibular para facilitar as coisas, mas pesquisei a grade que me possibilitasse um maior aprendizado, com professores renomados e um valor que coubesse no orçamento. Esse planejamento, antes mesmo de me matricular, foi também importante.

Como estamos em pandemia, a universidade estava com o ensino online, o que facilitou bastante a minha organização da rotina. Poder assistir as aulas em casa e ter acesso as gravações depois (e assistir algumas aumentando a velocidade, confesso) foi essencial para que eu pudesse adiantar as disciplinas, já imaginando que a volta ao presencial limitaria meu ritmo nos semestres seguintes.

Optei pelo turno da manhã, mas peguei algumas disciplinas a noite também. Como na pandemia o trabalho reduziu um pouco o ritmo (deu uma desorganizada geral na galera, mas o financeiro pesou) foi possível concentrar os atendimentos da Avesso do Caos a tarde, quando a filha está em aula, o que encaixou direitinho.

Pra você não achar que deu tudo certo e que foi tudo as mil maravilhas e se iludir com esse relato, preciso contar que nem tudo são flores. O falecimento do meu pai em Maio (quase no final do primeiro semestre) desregulou algumas coisas e se não fossem as amigas que fiz nos meses anteriores não sei se teria conseguido finalizar os trabalhos.

Outra coisa que mudou também foi a minha filha ter precisado fazer atendimentos com a fonoaudióloga e entrar na natação no segundo semestre. Ambos pela manhã, o que me fez ter que fazer umas adaptações, como assistir parte das aulas pelo celular (não existe multitarefas então acabo deixando a desejar um pouco).

O volume de leituras tem sido bem além do que eu imaginava, então também demorei um pouco para pegar o ritmo e conseguir conciliar as minhas leituras mais leves com os artigos e livros acadêmicos. E, fora isso, descobri que nem todas as matérias da grade e professores da universidade me encantaram tanto como eu imaginava. Rola um cansaço, volume excessivo de trabalhos sem sentido, desorganização e falta de foco em muitos momentos, o que me faz ter que respirar fundo e relevar muitas vezes.

Em semana de provas e entregas de trabalhos a coisa fica mais tensa. Meu marido diz que eu que sou nerd demais e que não precisaria desse estresse todo. Mas eu curto ser nerd, então acabo me sacrificando um pouco mais nesses momentos e sou recompensada com bons resultados, além de me planejar para um descanso na semana seguinte para manter o equilíbrio.

Nesses quase dois semestres de curso eu já posso dizer que essa foi uma excelente escolha. Estudar novamente me ampliou horizontes, me trouxe inúmeras reflexões profissionais e pessoais (haja terapia) e me trouxe novas e maravilhosas amizades e tem me ajudado a lidar com o luto também, além de todo o conhecimento acadêmico em si.

Outra coisa que posso dizer é que sem organização eu já teria desistido. A organização me ajuda não só no plano de estudos e rotina mas também na clareza a respeito das minhas prioridades na hora em que não consigo conciliar os papéis.

Fiquei esse tempo todo sem dizer que estava fazendo uma nova graduação porque tinha medo de que divulgar trouxesse uma pressão e expectativas de quem me acompanha e curte o meu trabalho. Não queria misturar as coisas. Mas percebi que tinha muito a ver com uma leve insegurança da minha parte em bancar essa escolha. Eu precisava desse tempo, e tudo bem.

Hoje me sinto tranquila para dizer que sou formada em Ciência da Computação, trabalho com organização e produtividade e curso a faculdade de Psicologia. Não sei se vou clinicar, não tenho uma linha ou abordagem definida, não sei muito ainda sobre essa área. Sou uma mulher de exatas engatinhando no mundo das humanas.

O que eu sei é que sou feliz com essa escolha e que a organização me ajuda a seguir nesse caminho todos os dias. Vou contando por aqui sobre essa jornada, quando me sentir a vontade para isso e, claro, se vocês se interessarem pelo assunto.

Aproveitando, deixa aqui nos comentários se você fez, faz ou pensa em fazer uma segunda graduação.