A maternidade, o luto e o que a organização tem a ver com isso
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Maio é mês das mães e amanhã é o dia das mães e por isso eu resolvi falar sobre maternidade novamente por aqui (já falei mais sobre esse tema aqui, aqui e aqui). A maternidade promove mudanças profundas na nossa vida, mexe com tudo e desestrutura. E precisamos falar mais sobre isso.
Das pessoas que me procuram nas consultorias individuais, cerca de 80% atribuem a desorganização em suas vidas a maternidade. Não dá para fechar os olhos para isso. O sintoma mais frequente é o da sobrecarga e na maioria das vezes ela vem por conta de uma maternidade idealizada ou de uma resistência em alterar rotina e hábitos.
A primeira coisa que eu digo é que é normal. As mudanças desestruturam mesmo e um filho é mudança em todos os níveis da vida. Na casa, na mente, no corpo, na rotina, no trabalho, nas finanças. E é por isso que a gente precisa trabalhar o luto. Pode parecer dramático demais, mas todo processo de mudança envolve luto.
Maternidade é vida e nascimento, mas junto com esse nascimento de uma nova vida, existe a morte de algumas outras coisas a reboque. Morre a rotina anterior da família, morrem alguns sonhos antigos, morrem idealizações e expectativas, morre a configuração anterior de família, morre parte da sua liberdade e controle.
Não brigue comigo, não sou só eu que estou dizendo isso, a Psicologia já estuda a associação das mudanças ao processo de luto a bastante tempo. Existe até um estudo que mapeia as etapas da mudança/perda (Modelo Kubler-Ross). O ponto é que se a gente não começar a lidar com esse luto a gente não vai sair dele e ele pode trazer consequências desastrosas como frustração, exaustão e até depressão.
Eu também passei por isso. Eu tentei manter antigos hábitos e rotinas, tentei manter a minha vida do jeitinho que ela era antes da maternidade. Eu queria sair, ouvir música, conversar com os amigos, ter a mesma disposição de antes, levar a mesma rotina intensa de antes. Aos poucos eu percebi que estava me exigindo demais e que eu tinha uma imagem idealizada do que era ser uma boa mãe e vivia frustrada por não conseguir dar conta de tudo. É, a maternidade também mexe com as pessoas organizadas.
O que me ajudou é que eu me toquei de que o que estava errado era o meu planejamento, crenças e expectativas. Eu comecei a entrar em contato com os meus limites...do meu corpo, do meu tempo. A observar a minha nova realidade e me despedir da minha antiga realidade. Usei o que eu já sabia sobre organização em outras áreas da minha vida e apliquei a maternidade. Li muito também sobre maternidade real e encontrei pessoas maravilhosas que me fizeram ver que existiam outras maneiras de encarar a maternidade e que eu não era maluca por achar que não estava dando conta. E foi aí que tudo começou a ficar bem.
" A elaboração do luto significa se colocar em contato com o vazio deixado pela perda do que não existe mais, valorizar a sua importância e suportar o sofrimento e a frustração que comporta a sua ausência." Jorge Bucay
Trabalhar o luto da maternidade é olhar para o passado vendo o que é possível manter e incorporar a nova rotina e se despedir daquilo que não faz mais sentido. É olhar pra dentro e encarar nossos desejos e sentimentos. E aí então olhar para o futuro e traçar metas, rotinas e planos realistas que fazem de fato sentido.
A organização entra aí. Como uma ferramenta para fazer as coisas se encaixarem novamente. Para te ajudar a encarar esse momento em sua totalidade e lidar com o que é preciso. Achar que as coisas vão se resolver sozinhas com o tempo pode te fazer perder um tempo enorme, pode ser um desgaste imenso.
Abrace essa nova fase e vivencie a maternidade com mais leveza assumindo todos os seus aspectos, inclusive as perdas. Não se iluda, se organize. E se precisar de ajuda ou quiser só desabafar, conta comigo. Precisamos de mais empatia no mundo para lidar com a maternidade e suas mudanças.
2 comentários
Muito triste, que Deus conforte todas as Mães que já vivenciaram o luto.
ResponderExcluirOlá! Na verdade eu estava no post falando sobre um luto mais subjetivo, a morte de pequenas partes de nós mesmas ao nascer um filho. Mas a morte concreta realmente, a perda de um filho, nossa deve ser um baque imenso. Muito triste mesmo e bem mais difícil de ser enfrentado, com certeza.
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